São 02h24 da madrugada. Estou sem sono. Poderia dizer que, como de costume, estou ouvindo, atento, os "sons da noite". Os sons emitidos pelos que dormem, os ruídos da casa, da rua, cachorros latindo, vozes etc. parcialmente camuflados pelo barulho do meu ventilador. No entanto, estou de fato escutando o som dos acordes de uma banda indie, surgida nos 80, chamada The Lemonheads. A música é Into Your Arms.
Enquanto a escuto, repetidas vezes (nonstop), minha cabeça viaja no ritmo da batida empolgante e da letra simples. Eventos aparecem diante de mim como um flash. Tudo isso junto e misturado me deu vontade de falar sobre música, sobre coisas que vem acontecendo.
É curioso como a música pode desencadear uma série de emoções nas pessoas. As minhas, nesse instante, são boas. Me sinto bem comigo mesmo, me sinto contente. "Inspirado" seria a melhor de todas as definições. Estou louco para pegar o meu violão Yamaha G-20A e tocar os acordes dessa canção, cantar como se só eu existesse no mundo. E viajar. Como acontece toda vez que toco. Mas ele está com uma das tarrachas quebrabas. Não há como afinar. Não há como tocar.
Arrebatados pelas notas musicais, meus pensamentos voam sem empecilhos, sem barreiras tempo-espaciais, morais ou físicas, voam sem culpa. Esses mesmos pensamentos visitam o meu passado, vasculham o meu presente e esboçam traços de meu futuro. A música é como uma máquina do tempo que me transporta para uma dimensão de possibilidades.
Do meu passado, a música me trouxe o sábado. Me vi parado naquele ponto de ônibus, num dia quente depois do trabalho, enquanto observava o pombo catar suas migalhas próximo à calçada, agitado e faminto. Estava tão ocupado com sua tarefa cotidiana, que parecia não estar atento a mais nada, num local movimentado por pessoas e veículos. Aventurou-se centímetros mais longe da calçada. Obcecado por tantas migalhas espalhadas pelo chão, distraiu-se e não percebeu o ônibus se aproximar dele. Estava tão envolvido em sua coleta que, parecia não haver tempo para ele abrir as asas e alçar voo ou mesmo para pular para o lado seguro da calçada. Eu comecei a sentir uma angústia e, quando vi que o ônibus estava próximo demais, virei meu rosto para não ver o que eu sabia que não seria evitado. Segundos depois, olhei e vi o pombo esmagado, "quebrado" no meio das migalhas. Passei o sábado inteiro e o domingo refletindo sobre o que havia acontecido ao pombo, sobre como aquilo havia mexido comigo, o que me levou a pensar sobre como as coisas podem acontecer por acaso, sobre a brevidade da vida, como não temos controle sobre nada, nem sobre nós mesmo, quiça sobre o meio.
Do meu presente, fui agraciado com a sensação do descanso, a lembrança das férias que estão por vir, embora elas não siginifiquem totalmente "descanso". A música me trouxe ainda meus medos, desilusões, lembrou-me de minhas metas para o agora, estimulou-me, fazia meus átomos vibrar, me lembrava que ainda estou vivo - coisas essas que eventualmente esqueço.
Por fim, lá do meu futuro, a música presentou-me com as expectativas, com a lembrança do meu destino, os sonhos, os desejos... Ela lembrou-me ainda que é da minha vida e todas as implicações dos meus atos, sejam positivos ou negativos, que não posso esquecer. Lembrou-me de que não posso esquecer quem sou, de onde vim, que caminho estou seguindo e para onde quero ir.
A música é realmente uma das mais extraordinárias formas que o homem encontrou para ler o mundo e expressar-se nele, com o poder de libertar e também de aprisionar dentro de si mesmo. Into Your Arms é a música que me inspira nesta madruga afora, mas outras duas também ajudaram a criar essa atmosfera de introspecção e inspiração: Eyes, do grupo Rogue Wave e Jumper, do Third Eye Blind, ambas bandas de rock alternartivo da Califórnia e São Francisco respectivamente.
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