sexta-feira, 21 de junho de 2013

Relato de um Manifestante do Movimento Passe Livre Salvador (20/06/13)

Relato de um Manifestante do Movimento Passe Livre
 
Parei de assistir televisão por conta do que mais é mostrado: violência, descaso e corrupção. Claramente observa-se que todos os dias nossos políticos nos roubam descaradamente de diversas formas. Roubam-nos. Tiram de nós o pouco que temos (direito a saúde pública e educação de qualidade, segurança), aumentam nossos impostos e o custo das mercadorias e serviços logo após nos darem aumentos de salário mínimo ridículos. Seus aumentos de sálarios e benefícios? São faraônicos? Todos os dias vê-se na TV. Eu já havia cansado. Imaginei que o povo também estivesse, porém sem memória. O mesmo povo que costuma sorrir para os políticos a cada eleição após uma "gracinha" deles. Mas não é isso que estou vendo nos últimos dias.
 
Ver nossa Salvador se levantando, junto com outras cidades brasileiras, em apoio aos manifestantes de São Paulo e do Rio de Janeiro é algo maravilhoso por falta de palavras mais adequadas. O povo está cansado de ser sacaneado e ficar calado. Como diz-se por aí, "O Gigante Acordou" (adoro essa expressão!).
 
Parei de assistir TV, mas não completamente. Especialmente quando há algo a ser visto. Tenho acompanhado os protestos, as manifestaçãoes, a revolta do povo apresentada pacificamente e violenta. Confesso que de início, fiquei confuso com a súbita eclosão dessa revolta. Procurei ler, ficar de olho em tudo que estivesse sendo dito ou escrito a respeito. Queria formar a minha opinião a respeito. Isso tudo me interessava muito. Mas, não é para expressá-la de forma detalhada aqui que voltei a escrever. Foi para divulgar o relato de um manifestante que foi às ruas de Salvador ontem, 20 de junho de 2013 e testemunhou os acontecimentos que a TVs não descreviam (e nunca descrevem) com exatidão. Havia lacunas. E essas lacunas, acredito eu, foram preenchidas por Fernando Abreu. A seguir o texto na íntegra do próprio Fernando divulgado essa madrugada numa rede social:
 
"Diário de bordo, Manifestação Pública em Salvador, 20 de Junho de 2013. 
[por Fernando Abreu]

 Nada mais que a verdade.

Me chamo Fernando Abreu, não devo nada para ninguém, não pratiquei nenhum ato de vandalismo e nada temo além da retaliação política ou física do Governador da Bahia. Afirmo ser verdade tudo o que relatar.
Não encontrei meus amigos e participei da manifestação sozinho, o que me deu total liberdade de movimentação desde às 14:45 quando fui para o meio da multidão.

Merece cadeia a pessoa que ousar dizer que tinha menos de 80 mil pessoas nas manifestações de hoje, com possibilidade de 120 mil ou mais se contarmos a cidade toda. Um amigo disse ter ouvido na TV cinco mil pessoas, isso não é mentira, é crime falar uma coisa dessa. Tive a oportunidade de ir em jogos de 8, 20, 60 mil pessoas, mais de 15 carnavais na Bahia, comícios e passeatas. Não sou matemático, mas tenho lá o meu conhecimento empírico de multidões.
Quem é de Salvador é só imaginar. Saindo do TCA, passando pelo politeama e chegando até o IML cobrindo também até o semáforo que dá entrada para lapa, tomada de gente igual ao carnaval, só dava para passar pedindo “com licença” a cada meio segundo.

Deu de tudo, pais com crianças de colo, mulheres grávidas com barrigão pintado, galera rasta, gente rica do Corredor da Vitória ( parabéns! ) que teoricamente não precisa participar de manifestação pois são ricos e não passam nem por metade do que o povo sofre, são muito bem-vindos, deu aquela galera de 40+ sem usar referência a partidos mas claramente politizados e sindicalizados, muita gente da periferia, muita mesmo e obviamente os estudantes. E como em toda multidão, torcida de futebol, micareta, etc., apareceram os vândalos/ladrões, destoavam da multidão, não cantavam, não se misturavam, só mantinham o olhar atento, camisa no rosto desde o começo, grupos pequenos de 5 a 7 pessoas e sempre seguindo um mini-líder, mas vou falar deles depois.

Como estava sozinho fiquei a ver a multidão passar, do começo ao fim na esperança de achar o pessoal com quem marquei de ficar. Foi lindo ver tanta gente diferente e todos lutando por um mesmo ideal. Mudar o comportamento e a imagem de apatia latente do povo brasileiro, eu que li todos os cartazes da multidão, (“Eu perdi meu pai para a violência mas não vou perder meu país” o mais emocionante e “Genki Dama no congresso, solução para o Brasil” e “Dilma, fica de 4 pra eu lhe bagaçar toda!” os mais engraçados) farei o resumo de 90% das mensagens:
1º lugar PEC 37, maioria esmagadora.
2º lugar Feliano, muita gente reclamando da homofobia e alguns poucos
3º lugar Corrupção e políticos brasileiros (Renan Calheiros o mais lembrado)
4º lugar Copa do mundo (custo e desvio de verbas) – O que senti, foi o povo reclamando da roubalheira e do que poderia fazer com esse dinheiro, não com a copa em si. Se houvesse mais transparência, e um custo menor o povo ia abraçar essa copa, poucos foram os cartazes falando da seleção (“Cada vez que você assiste a seleção, eles roubam 1 bilhão”)
5º lugar As mais variadas razões, desde o rapaz que estava protestando pela morte do pai, nerds reclamando do novo x-box, mas a maioria reclamando de algo real e justo. Esse pessoal realmente ajudou a engrossar a massa pacífica do movimento.

A marcha usaria o trajeto inicial do carnaval tradicional de Salvador saindo do Teatro Castro Alves e iria passar pela Avenida Sete (tradicional local de manifestações públicas) mas a polícia ilegalmente armou barreiras além do permitido pela Lei da Copa de 2 km em torno do estádio, a lei além de delegar à FIFA poderes que um presidente só tem em tempos de guerra a polícia nem esse espaço respeita. (
http://tinyurl.com/l26598d ).
Ok. Fecharam a principal avenida de Salvador, a avenida que finda no local onde em 89 eu fui apoiar a eleição do cara (The Man, segundo Obama) que indiretamente(?) me fez sentir pela segunda vez na vida medo real de morrer. A avenida que o baiano tem alegria no carnaval e recebe seus visitantes, a avenida que no Sete de Setembro a população civil aplaude a sua polícia no desfile. Perdemos a Avenida Sete, vamos Dique do Tororó (♪ Eu fui ao Tororó, beber água e não achei, encontrei linda morena, que no Tororó deixei.... ♪, então, esse exato dique) que fica ao lado da Nova Fonte Nova.
Fizemos este exato trajeto “
http://tinyurl.com/lsgyfsj
Eu saí do fim da manifestação no TCA e fui em direção à linha de frente, queria ver de perto o comportamento da polícia e já a 800 metros eu vi a primeira correria, alguém jogou um bombinha de São João fraquinha e gritou “corre!” foi bastante. O efeito manada surgiu pela primeira vez. Eu estava longe mas posso penso que não houve motivo real. Em vez de correr, corri para ver de perto o motivo da confusão, ninguém sabia. Na segunda vez eu estava perto e também não entendi, só vi o povo correndo, uma menina caiu e me preocupei mais em ajudá-la a não ser pisoteada do que qualquer outra coisa naquele momento.
Não consigo imaginar outra razão que uma pessoa muito troll ou alguém infiltrado para iniciar a confusão e o efeito manada, talvez a tenha sido algum policial da barreira da AV. Sete mas eu sinceramente não ouvi e nem senti cheiro de bomba. Me direcionei à frente do protesto.
Chegando perto do IML a polícia já estava de prontidão. Nenhuma forma de passar. Direito de ir e vir Zero, a Fifa mandou, mas o meu direito de protestar eu tenho e tava lá pra isso.
Era até bonito, molecadinha cantando “Sem Violência”, “Povo unido jamais será vencido” e esse tipo de coisa esperada. Se alguém falasse que teria um show do Justin Bieber ninguém iria desconfiar. Menininhas de 14 anos com shortinhos de bolso pra fora, adolescentes com os primeiros fios de barba aparecendo, alguns estudantes com uniforme da escola apesar de ser feriado, poucos “punks” clássicos e todos inocentemente protestando pacificamente. Formou-se uma linha entre a polícia e os manifestantes. Atrás continuava vindo gente, muita gente, até então o ar estava limpo, o dia bonito e dava orgulho de ser brasileiro.
A primeira bomba veio do céu, não explodiu, só começou a fumaçar. Quem viu começou a correr. A segunda explodiu, muita fumaça, palavrões e adolescentes chorando, muita gente chorando. Tava tão bonito, tão legal, catarse geral e de repente a gente não respira direito, os olhos começam a lacrimejar e respirar é difícil. Quando a terceira bomba veio, eu já estava meio longe da polícia, a maioria estava e mesmo assim ela veio. O vento levou.
O movimento se dividiu de tal forma que nem Moisés conseguiria fazer de forma tão nítida.
Os ingênuos, os calmos, os incapacitados fisicamente e grande massa passiva para um lado, os violentos, os revoltados sem causa, os criminosos (metade, eu diria), os sem noção e os fisicamente capazes e conscientes do crime que a polícia estava fazendo (Não importa se é por ordem do governador ou presidente, não se atira bombas em adolescentes), indignados com tal ato ficaram na linha de frente. Indignação, razão principal de fazer a burrice de bater de frente com a polícia sendo que estava sozinho e sem ninguém nem pra avisar para notar a minha falta em caso de abuso policial.
Depois da separação dos manifestantes o primeiro grupo atuando perto dos policiais e o segundo chegando mais perto ou não dependendo do avanço ou retrocesso da polícia (cerca de 100 metros um do outro) veio a polícia montada, como ainda havia muitos manifestantes conscientizados houve um tentativa de sentarmos no chão. Nenhum pedra arremessada, nenhum ato de vandalismo havia acontecido ainda.
Eu estava na fila da frente sentado e várias pessoas atrás de mim sentados também, os cavalos vieram, ao olhar para trás vi que estava sozinho com um cavalão olhando para mim, dois passos pra frente e haveria o choque. Me levantei, falei para o policial “Em mim você não bate” e milagrosamente ele não bateu (talvez ajude o fato de ter 1.94 e 130 kilos) um rapaz franzino com um cartaz na mão foi o único a não se levantar, e a polícia também não bateu nele.
Só que os cavaleiros vieram sozinhos, a linha da PM ficou lá atrás. Eu não entendi porque vieram atrás de um monte de gente sentada a 30 metros de onde os PMS estavam mas sei que eles estavam sozinhos.
A primeira pedra quase pega em mim, os cavalos começam a retroceder, foi o que bastou. O efeito manada de novo, só que ao contrário. O povo foi pra cima dos policiais, jogando pedra e começando a confusão de verdade.
Os conscientizados se juntaram ao segundo grupo e só sobraram os vândalos misturados à pessoas, como eu, indignadas de sofrerem violência por quem deveria ser treinada para acabar com ela. Eles começaram, covardemente contra pessoas que um grito mais alto os fariam fugir para as montanhas, depois contra pessoas sentadas. O que veio depois foi apenas consequência. Não havia uma câmera de rede de TV para registrar, um jornalista. Não sei se estava nervoso ou não consegui distinguir na confusão mas eu procurei pois estava sozinho e imprensa seria um meio de defesa contra uma eventual prisão ou agressão.
O vai-e-vem da polícia com os manifestantes durou cerca de 1 hora. Várias pessoas feridas pelos estilhaços de bomba, uma eu tive que carregar no colo para que a segunda bomba que estourou perto dele o machucasse mais ainda pois estava impossibilitado de andar, mais uma vez o meu tamanho serviu para alguma coisa. Neste momento os vândalos ganharam o aval dos manifestantes que sofreram violência para praticar seus atos. Muitos dos que gritavam “sem violência, sem pedras, sem depredação” mudaram de lado e passaram a ajudar os que já vieram com este intuito. A polícia a mando do governador Jacques Wagner, ex-sindicalista e político fruto de manifestações populares, conseguiu transformar perfeitos brasileiros patriotas em vândalos. Somente quem apanha sabe a dor que é a humilhação, a incapacidade de reação ou defesa. Eu não defendo, é burrice vai ser consertado com nosso dinheiro ou pago com nosso dinheiro, além de justificar e mascarar a incompetência da polícia. Até o momento se algum deles ameaçasse fazer alguma arruaça seria facilmente impedido ou linchado pela população, mas a situação mudou.
Era cerca de 18:30 horas da tarde quando o reforço chegou, mais uma bomba caiu (eu contei de 30 a 40 até aquele momento) no meio da multidão e nisso uma pessoa caiu e começaram a chamar por um médico. Uma ambulância abriu espaço na multidão e os manifestantes pararam de se preocupar com a polícia e deram as costas para eles.
No exato momento que a ambulância chegou perto da menina caída no chão cerca de 6 a 8 bombas estouraram de vez, em todas as direções, duas perto da própria menina no chão. Acabou a brincadeira, dessa vez uma estourou perto de mim. Primeiro eu fiquei surdo com o estampido, não tinha como evitar a nuvem de gás que se formou perto de mim, fora as outras nuvens de outras bombas. Comecei a correr e em menos de 2 segundos tive que voltar a andar, mesmo vendo aquele monte de policial correndo atrás da gente pois não conseguia enxergar nada. Parcialmente cego e surdo veio o desespero, não conseguia respirar, a camisa não foi o suficiente. Fiquei seguramente 15 segundos sem respirar e preocupado com as pessoas ou apolícia atrás de mim me atropelar, veio o desespero e o coração começou a acelerar. Várias bombas simultâneas, inalei uma concentrada, parei de fumar a poucos meses, gordo e sedentário, minha visão diminuindo e o coração acelerando, sinceramente achei que talvez fosse a minha hora. Se caísse já era.
Consegui manter a calma, parei de respirar pela boca, a visão começou a voltar e a polícia estava mais longe do que imaginava. Se os vândalos tinham conseguido a permissão, começaram a ganhar o apoio da população “comum” que sofreu a agressão da polícia. Todos os ônibus que estavam no caminho da passeata perto da ação da polícia foram depredados, e foram os poucos que reclamaram, estávamos todos preocupados com nosso bem-estar para se preocupar com aquilo, nem se quiséssemos conseguiríamos impedir.
Estava acabada a manifestação com alguma proximidade do Estádio.

As pessoas começaram a voltar para as proximidades do Teatro Castro Alves. No caminho para o TCA a maior COVARDIA que presenciei, não a maior violência, mas o ato mais vil, sem dúvida.
Com a moral baixa, gás na cabeça e policiais atrás sentando a borracha no pessoal que estava destruindo os ônibus, os manifestantes que não queriam se envolver e nem sofrer com a violência estava rumando ao TCA quando primeiro 2 e depois 3 bombas caíram nas pessoas, do nada. Policiais em
http://tinyurl.com/l2jtmgj atiraram bombas em cerca de 50 pessoas PELAS COSTAS ninguém havia ameaçado ir para a Av. Sete. COVARDIA e MALDADE PURA. O clima de desrespeito e o “hoje pode tudo” a mando do Gov. Jacques Wagner propiciaram que vândalos só que fardados continuassem a aterrorizar a população.

19:30h, cansado, violentado, humilhado e apesar do sentimento de derrota física para a polícia, tenho dentro de mim o sentimento de dever cumprido. Depois do ataque gratuito, e andando sozinho, enfrentar a polícia não é uma decisão inteligente. Tenho viagem de trabalho para o novo emprego dentro de 15 dias e um olho roxo ou uma perna quebrada não iriam ajudar em nada. Decido ir para casa.
No caminho até o ponto de ônibus, uma grata surpresa: A parede do quartel militar no Campo Grande virou de cemitério de cartazes. A coisa mais linda. As pessoas iam embora e deixavam seus cartazes no chão e na parede do quartel, um rapaz ajudava distribuindo fita adesiva. Passo pelo TCA lotado de gente ainda. Até ficaria mais tempo pela vibração da galera mas estava sozinho e decidido a ir embora.
2 km após o último ataque covarde da polícia chego no ponto e pego o ônibus para casa. Não deveria.
Como não havia rotas de evacuação, o curral formado pela polícia ajudou a reagrupar as pessoas em outro local. Parabéns polícia, muito inteligente! Tiveram treinamento com uma prestigiada academia americana de policia (
http://pt.wikipedia.org/wiki/Police_Academy ).
O movimento se reagrupou bem em frente ao ônibus em frente ao meu, apesar de ter poucas pessoas fecharam a rua e não dava para passar. E começou a juntar gente, e a crescer mais e mais. Quando menos notei estava de volta ao asfalto, gritando e chamando mais gente para a rua. A quantidade de pessoas chegou seguramente a 2 mil pessoas. Não era nada comparado ao começo mas era um grupo legítimo. Estávamos em frente ao velho clube Espanhol quando a multidão se formou definitivamente. Em frente ao Hotel Othon, um dos mais luxuosos e caros de Salvador o povo piscava as luzes dos quartos em sinal de apoio ao movimento. Neste momento um estranho me avisa para ficar de olho em um grupo de marginais/ladrões infiltrados na multidão, ele afirmara que havia visto eles depredando e roubando kilometros atrás. Um deles chuta um cesto de lixo e é imediatamente repudiado pelos manifestantes, este leva suas mãos ao seu escroto como que se falasse “Aqui pra vocês”, eu e mais algumas pessoas ameaçamos partir para cima do infeliz e ele sai correndo. Deixamo-lo ir. Mesmo se o pegássemos, não tínhamos a menor vontade de ver um policial na frente. Não hoje, nem fudendo.
A passeata segue pacificamente e nenhum sinal de vandalismo ou depredação. Chegamos ao final de Ondina, famoso ponto de dispersão, inclusive é o principal ponto de dispersão do carnaval baiano. A tendência seria da passeata acabar ali mas o que encontramos?
Exato, a tropa de choque, preparada e com sede de sangue. 5 KM LONGE DA FONTE NOVA !!!! Lei da copa é uma porra, aliás, esqueça qualquer lei. Bahia virou terra de ninguém.

Eu posso ser idiota, mas burro eu não sou. 5 KM longe do estádio, tropa de choque em quantidade suficiente para dispersar a multidão e mais 2 caminhões com policiais também da tropa de choque chegando, eles não estavam ali para conversar muito. A tensão voltou.
Todos os manifestantes se sentaram imediatamente e começaram a gritar “Ei, policia também é oprimido” e o que mais gostei “Não é mole não, na sua greve vai se fuder na mão da população!”. Realmente, eles que não precisem de nós nos próximos 10 anos.
Um garoto, aparentemente um dos líderes da manifestação, se meteu a conversar com um policial, este avisou que não estava ali para conversar, todos deveriam se dispersar. Foi a minha deixa. Se contra 80 mil pessoas entre novos adolescentes e velhos eles não pensaram duas vezes em meter bomba, imagine contra umas 800 pessoas composta majoritariamente de jovens adultos cansados e com a grande imprensa a kilometros de distância.
Meu timing foi perfeito, menos de 2 minutos de sair de perto veio a primeira bomba. De novo uma multidão atrás de mim correndo.
Quem é capaz de adivinhar o que se sucedeu? Exatamente, depredação. Carros, pontos de ônibus, lixo virou barricada e o primeiro ônibus que apareceu teve seu vidro quebrado com pessoas dentro do ônibus.
Parece que foi de propósito, estava tudo indo bem, não havia nada de mais. Ou seja, não era bem essa a intenção deles. O bom protesto, a correta manifestação de jovens não é interesse do governo.
Metros depois e com a polícia centenas de metros atrás de mim um ônibus aparece vazio, começam a depredar, o motorista foge. Já distante observo as pessoas destruindo o ônibus como troféu, ouço mais bombas, mais gente gritando. Já não me interessa mais. Estou perto de casa no Rio Vermelho e só olho de longe.
Depois deste episódio chego à única óbvia de ver a tropa de choque confrontando pessoas no ponto de dispersão a 5 km do estádio jogando bomba em pessoas que estavam sentadas quando eu saí de perto.
Eu não sei como, eu não sei onde, eu não sei quanto. Mas alguém ligado à copa e ao governo vai ganhar muito dinheiro com essa confusão e paz nas manifestações não ajuda em nada. Havia os criminosos de multidão infiltrados, como sempre, mas o Governo da Bahia, hoje, foi fator principal para o vandalismo. Fato.
Ah já ia me esquecendo, ouvi falar que a imprensa chegou providencialmente logo depois as primeiras bombas. Chegaram para filmar a polícia estava restaurando a ordem que ela mesmo havia destruído.

Me dou conta que o texto ficou muito maior que esperava. Tomara que alguém leia. Vale a pena. Tudo verdade.
Dou permissão a qualquer pessoa que se interessar a reproduzir o texto, desde que não o altere. No máximo corrija algum erro de português mas prefiro que publique com seus erros e vícios de linguagem, pois são 3 da manhã, cheguei em casa por volta das 23h, andei mais de 40 km hoje e isso pra um gordinho sedentário com as pernas assadas é muito, muito cansativo. Nem vou revisar, vou mandar do jeito que está.

Obrigado Bahia, Brasil me encheu de orgulho hoje. É tão bom sentir esperança.

Com Feliciano, Renan, Genoíno, Cunha, Pec 37, roubalheira na copa, corrupção endêmica no país, para não entender esse movimento só se for idiota ou corrupto.

Fernando Abreu. Piauiense de nascimento, Paulista de coração e Baiano de criação. Brasileiro acima de tudo."