terça-feira, 7 de junho de 2011

A banalização da violência e os defensores da lei

Neste trecho transcrito de um vídeo publicado no YouTube, em que Alexandre Garcia comenta sobre a violência no Brasil, há um trecho em sua fala que me chama atenção. Assim, ele diz:

"[...] No Brasil, nos matamos à razão de 50 mil por ano. Talvez por sermos campeões mundiais de homicídios, isso ficou banal e não nos escandalizamos o suficiente para mudar quando arrastam um menino nas ruas do Rio ou quando um jovem , que quer sera dvogado, acelera o carro sobre um frentista recém atropelado por ele em Ribeirão Preto. O jovem tinha seis frascos de lança-perfume no carro e ainda está nas ruas. Enquanto isso, ficou sete meses na cadeia, um catador de papel que abriu num supermercado uma garrafa de cachaça de $1,50 para beber. Foi solto agora, no mesmo dia em que reassumiu a prefeitura de Pirambú, o prefeito acsado de levar 3 milhões do município."

Parece que as pessoas não ligam mais para quão brutal seja um ato de violência. Prova disso, é o fato de religiosamente a maioria dos baianos se reunirem no horário do almoço para assistir ao circo de horror televisionado transmitido por programas do gênero Na Mira, Se Liga Bocão, Que Venha O Povo.

Há também um outro vídeo, publicado na rede em 2007, no qual o jornalista faz o seguinte desabafo. Eis a transcrição na íntegra para que vocês entendam aonde quero chegar.

"RENATO MACHADO: Alexandre, mais uma promessa aniga essa de mudar a legislação...

ALEXANDRE GARCIA: É. E os fatos mostram, Renato, que essas intenções duram três semanas e depois, são substituídas pelos interesses da coorporação política. E a gora, o horror das ruas corre o risco de ser substituído pela preservação do fundo partidário para os grandes partidos por exemplo.

O que aconteceu ontem no Maracanã é bem simbólico: fez-se um minuto de silêncio e depois, o jogo continuou. Há dez anos se fala nisso, quando menores de idade mataram o índio Galdino numa fogueira de alcool na capital. Alguns dizem que agora chegou o fundo do poço. Engano: o fundo do poço já está muito acima de nós! Já banalizamos a morte e o horror. Fomos além do fundo poço quando torturaram e mataram a fogo o Jornalista Tim Lopes, no Rio, há cinco anos.

E aí o país ouviu as autoridades falando de endurecer as leis. Ouvimos de novo em 2003, quando a menina Gabriela, de 14 anos, foi morta a tiros na escadaria do metrô na Tijuca no Rio de Janeiro. E, de novo, ouvimos quando um menor chefiou um trucidamento de um casal de adolescentes no Umbubi em São Paulo. Nos Ataques no Rio o resultado foi uma parada militar garbosa da força nacional de segurança pública. Depois que mataram João Hélio, um pai que foi morto diante do filho em assalto no Rio e outro pai foi morto por assaltante diante da filha na garupa de sua moto em São Paulo. É diário o crime. E a reação dura um minuto de silêncio e o jogo continua.

Não se combatem coisas concretas, combatem-se abstrações. Combate-se a violência e não o bandido. Pede-se paz e não a lei. Parece que falar em lei não pega. Diz-se que tolerância zero não faz bem ao espírito tropical.

No improviso de posse, o presidente Lula falou em degradação social pela perda de valores que precisa ser resolvido a partir de casa. Disse que o crime precisa ser compbatido com a mão forte do Estado.

Parece que o Brasil, fingiu não ouvir o que continuava passando no sinal fechado, estacionando na calçada, jogando lixo no chão, fazendo barulho pro vizinho, sonegando, desrespeitando a faixa de pedestre, em suma, enfraquecendo a lei que quer que o proteja. Aqui não a cultura de cada um é defensor da lei e a lei fica desamparada. Aí vai se contornando o problema, enquanto ele nos domina. Palavrório substitui ação. Crime virou CRIMINALIDADE dando mais tempo para o bandido enquanto se pronuncia o palavrão para inflar a estatística do horror."

Em ambos os textos, o jornalista fala de banalização da violência a ponto de não nos "escandalizarmos" mais, não esboçarmos nenhuma reação diante do horror; do fato de mesmo quando damos atenção aos atos de violência, ela não dura tanto tempo porque fala-se demais e nada é feito de concreto. Há trecho, em que Alexandre Garcia diz "Aqui não existe a cultura de que cada um é defensor da lei". É justamente como eu penso. Todos querem segurança, mas ninguém se sente responsável por ela.

Os defensores da lei

Em meu post A impunidade é segura, quando a cumplicidade é geral, publicado aqui dia 27/04/11, eu falava exatamente dessa questão. Se todos nós, membros de comunidades, compreendessemos que somos NÓS e não só OS OUTROS, os responsáveis pela garantia dos próprios direitos, direitos esses que tanto reivindicamos, que tanto cobramos do Estado; se compreendessemos também que somos NÓS e não só OS OUTROS, os responsáveis pela manutenção da natureza pacífica e familiar de nossas comunidades, com o poder de extirpar o horror causado pela banalidade da violência, pelo aumento do consumo de drogas por jovens, pela ausência ou ineficiência de políticas públicas nas áreas de segurança, saúde e educação por exemplo, a realidade seria completamente diferente do que é hoje. Vivemos o CAOS e a ORDEM não pode vir de apenas uma pessoa, uma vez que todos desempenham papeis, funções no meio social, numa comunidade. Não existe isso de olhar somente para o meu umbigo e o resto que se dane. Quando se tem essa atitude, o caos se estabelece. Se o gato dormir ou for embora, o rato "faz a festa".

O horror na praia que poderia ter sido evitado

Nesse sentido, creio que muitos, assim como eu, temos vistos a crescendo degradação social de alguns bairros outrora tranquilos aqui em Salvador, Bahia. É uma pena, uma vergonha, porém, uma vez que os membros das prórprias comunidades são permissivos e condecentes com o que não é bom para um ambiente frequentado por pais, mães, filhos e filhas, por idosos, crianças, adolescentes, estudantes. Itapuã, por exemplo já foi um local familiar, muito bom de se estar com a família, com a esposa, namorada para curtir uma noite à beira-mar. Hoje em dia, prostuição, drogas, assaltos, assédio de ambulantes, pedintes, barulho e bebedeira, cartel de segurança privada, tem de tudo lá.

No sábado, uma morte poderia ter sido evitada, se todos que ali estavam tivessem a compreensão de que são defensores da lei. Todos viram o assassino, um policial, que cheirava cocaína no cano da arma que tinha com ele no meio da praia às 10 horas da manhã. Todos viram, mas ninguém tomou providência. O posto da 12a ficava a pouquíssimos metros de onde o assassinato covarde aconteceu. O policial de 25 anos, que cheirava cocaína no cano da arma fora repreendido por um funcionário da barraca de praia porque ele estava incomodando a paz do local, mexendo com as pessoas. O policial não gostou, sacou a arma e deu três tiros. O rapaz caiu no chão sem vida. O policial, que afastou-se e deu o tiro de misericórdia, saiu andando e foi beber em outro barzinho perto do local do crime. Todos que o virão consumindo drogas e com a arma na praia são co-responsáveis pela morte do rapaz em minha opinião. Tudo seria diferente se as pessoas não achassem que consumir drogas e andar com armas em público fosse algo banal, normal.

Fonte:
A Tarde, versão impressa publicada em 6/6/11;
http://bocaonews.com.br/index.php?menu=noticia&COD_NOTICIA=13718

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